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montesclaros.com - Ano 25 - domingo, 6 de outubro de 2024
 

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Mensagem: DNOCS OCUPADO MILITARMENTE (50 Anos Depois) Reinine Canela Exatamente às 19h40min, do dia 31 de março de 1.964, o meu telefone tocou. Eu, minha esposa Helena e duas sobrinhas iniciávamos a primeira partida de buraco da noite. Atendi a chamada. Era o Dr. Joaquim José da Costa Júnior, então chefe do 7º Distrito de Obras do DNOCS – Departamento Nacional de Obras Contra as Secas, sediado em Montes Claros-MG. Na época, eu ocupava, no Distrito, o cargo de Chefe de Gabinete, acumulado com o de Chefe de Serviço de Administração. Notei na voz do Dr. Joaquim certa grosseria, forma de tratamento incomum naquele que foi sempre um verdadeiro diplomata. Muito lacônico, ele disse apenas:- Venha aqui, agora. Estou no DNOCS. Minha esposa ficou assustada com a ordem que eu havia recebido, pois as notícias veiculadas pelos rádios diziam que a situação no País era tensa e muito preocupante. Algumas emissoras iam além, deixando transparecer que poderia haver até um Golpe de Estado para derrubar o Governo de João Goulart e que o Exército e as Polícias Militares de São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Minas Gerais estavam de prontidão. Eu não tinha ideia do que poderia ser, mas cumprindo ordem, segui imediatamente para a Vila Ipê, hoje Bairro Edgar Pereira, onde o DNOCS, até hoje, mantém sua sede. Ao chegar, percebi na porta do hall de entrada, de pé, o Dr. Joaquim, o Dr. Borgia Valle, Juiz de Direito da Comarca, o Dr. João Valle Maurício, Presidente da Câmara Municipal de Montes Claros e o Engenheiro João Evanildo Guedes Fragoso. Postado em frente ao grupo, numa distância de aproximadamente 8 metros, estava o Coronel Georgino Jorge de Souza, Comandante do 10º BPM, com fardamento de Campanha e naquele momento, mantinha com o Dr. Joaquim um diálogo áspero, mas, até certo ponto, cavalheiresco. Do lado de fora, na Avenida, de prontidão, uma Companhia do 10º Batalhão. O Dr. Joaquim se negava a entregar veículos novos, recebidos recentemente da Ford, pretendidos pelo Coronel Georgino, sem a requisição que julgava imprescindível para a liberação espontânea dos caminhões e camionetas. Argumentava que ele era o responsável pelo Patrimônio do DNOCS, pertencente à União. Naquela altura dos acontecimentos, entendi que havia uma revolução em andamento e já presente na região Norte Mineira. O Coronel Georgino, mesmo em estado de guerra, não perdeu o controle, continuando a discussão com cavalheirismo, mas sem divorciar-se da firmeza. O impasse continuava. Um exigindo a requisição e o outro se negando a fornecê-la e, em alguns momentos, com muita tensão, continuava a discussão acalorada e quase aos gritos. Em dado momento houve uma movimentação por parte da Companhia, que me pareceu manobras de armas, instante em que ouvi a voz alta e firme do Coronel Georgino dizer: -Capitão (não me lembro do nome), permaneça com a Companhia onde está. Alguns minutos depois, como nenhuma das partes chegasse a um acordo, o Coronel Georgino deu ordem para que um pelotão entrasse na área do DNOCS, dizendo ao Dr. Joaquim que, a partir daquele momento, “o DNOCS estava ocupado militarmente” e que os veículos seriam tomados em nome do Movimento Revolucionário. Por ordem do Coronel, alguns militares seguiram em direção às oficinas para se apossarem dos veículos, momento em que o Dr. Joaquim deixou o DNOCS em companhia dos seus amigos. Apenas eu permaneci no local, para registrar a saída dos carros e anotar suas características e o estado em que seriam levados. Segui, também, em companhia do Coronel Georgino. O portão das oficinas, o qual se encontrava fechado com cadeado e corrente, foi aberto com a ajuda de uma baioneta. Como previ que os carros seriam abertos da mesma forma para as ligações diretas, já que as chaves eram guardadas no escritório, pedi a permissão para procurá-las, no que fui atendido pelo Coronel Georgino. Uns vinte minutos depois, após rebuscar os quatro cantos do escritório, encontrei as chaves e as entreguei ao Sargento responsável pela retiradas dos veículos. Outro fato digno de registro aconteceu. Dois motoristas do DNOCS, que se encontravam de plantão, foram convocados para integrarem a equipe que, pelos comentários dos soldados, seguiria com o comboio em direção a Brasília. Passados 30 dias, mais ou menos, os veículos foram devolvidos intactos, lavados e lubrificados. O movimento revolucionário alcançou seus objetivos e aqueles dois personagens importantes daquele episódio histórico, gigantes no cumprimento de seus deveres e fiéis aos seus princípios, continuaram amigos por muitos anos, até que foram convocados para servirem em outra dimensão. Fui amigo do Coronel Georgina e do Dr. Joaquim e até hoje, sinto-me honrado com a distinção que eles sempre me dispensaram. Esse fato foi amplamente divulgado pelos jornais, mas o que a imprensa nunca soube foi que, no início de março, Dr. Joaquim emprestou ao 10º Batalhão um avião que estava a serviço do DNOCS para que alguns oficiais procedessem a uma inspeção de rotina em áreas próximas ao Distrito Federal. Só depois de algum tempo ficou patente que a alegada inspeção era apenas uma cortina de fumaça: - A revolução já estava em andamento. E, precisamente, no dia 31 foi declarada e deflagrada.

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